Crónica de um funcionário público para o dia do Entrudo
Na calçada e de sapatos quase gastos caminha
leva vestido os trapos para a mascarada
num dos bolsos o resto do pão duro do outro dia
e no outro a memória da réstia de uma mesada.
Da família
quase nem se lembra
desde que o obrigaram à mobilidade
que já nem sabe se está no norte ou no sul
ou se afinal a terra é plana.
Lembra-se só de algo que ouviu:
o tipo que nos governa foi um grande amigo das farras
que só aos trinta e poucos anos se formou
por isso a frase “alunos não sejam piegas”
ou então arrependido dos gestos, em frases mudou
para que outros não caíssem em tentação
e a troika se arrependesse da ajuda a que se prestou.
Que de repente no meio da rua parou
e baralhado olha de um a outro lado
afinal ninguém salta na rua à brava
e ao trabalho só ele faltou?
Depressa, depressa ainda irá a tempo
e o mal remediar
antes que o apanhem na rede
e de maltrapilho se transforme em grande desertor
e o encarcerem como demente
ou como um dos alvos a abater!
Só que com greve nos comboios se deparou
e ao emprego mais tarde que os restantes chegou.